O valor arquitetônico ou histórico foi avaliado em um conjunto heterogêneo de edificações, sendo consideradas as qualidades próprias de cada exemplar e a suar elação enquanto referência cultural em cada cidade ou rua. Vários critérios foram observados para a seleção, tais como sua implantação, recuos, gabarito, verticalização, elementos decorativos e arquitetônicos das fachadas, sendo os edifícios que abrigam as lojas agrupados a partir de tipologias identificadas em relação à sua inserção na paisagem urbana.
Para o livro, a seleção apresentada reuniu 43 edificações em 31 cidades, em todas as regiões do país. Grande parte compõe o patrimônio cultural já reconhecido na sua região ou está localizada em áreas protegidas por legislação de patrimônio cultural. Há também, no entanto, exemplos de uma arquitetura anônima, singela, de valor, pelo fato de reproduzir, com qualidade, o estilo e a técnica arquitetônica do seu tempo. Constitui este livro, portanto, registro de uma amostra desse projeto, que é mais amplo, está em andamento e tem desdobramentos, uma vez que a rede se mantém em expansão e esse acervo vai sendo continuamente atualizado.
Podemos ler através da arquitetura, da configuração das ruas, das estruturas urbanas e das paisagens, como cada lugar se constituiu ao longo do tempo, e refletir sobre seu significado no momento presente. Nesse sentido, a série de edificações, por vezes casas ou prédios comuns, locais de trabalho e de consumo, foram estudadas detidamente, como bens culturais, de modo a colaborar com a sua preservação. A pesquisa, que engloba cada edificação mas também a formação de cada via e bairro ou cidade em que se insere, foi baseada em documentação, relatos, cartões-postais, notícias de jornais, cartografias, plantas e escrituras antigas, além de ampla bibliografia. A partir dela, foi possível mapear proprietários, usuários, usos anteriores, técnicas construtivas, decorações da moda, construtores e eventuais reformas por que passou cada prédio. O levantamento do material documental analisado em relação à situação atual, retratada nas fotografias de Pedro Prata, nos permitiu compreender com ainda maior clareza a trajetória desses patrimônios.
Testemunhos de histórias, esses prédios revelam diversas narrativas e vozes que explicam a formação dos centros urbanos, seus processos de transformação e modernização, o cotidiano e seus habitantes. São diferentes arquiteturas de norte a sul do país, onde as atividades varejistas têm um papel fundamental e por vezes protagonista, no que se refere ao desenvolvimento e ao estabelecimento das relações entre as pessoas e os lugares. Lado a lado, os edifícios compõem um conjunto representativo das formas tradicionais do comércio nas áreas centrais de cidades brasileiras e um conjunto significativo enquanto patrimônio cultural arquitetônico ocupado por lojas da RD.
Construídos em sua maioria na primeira metade do século XX, esses edifícios de arquitetura eclética, neocolonial, déco ou moderna sobreviveram e se adaptaram a grandes transformações que aconteceram à sua volta, como alargamentos viários, alterações de calçadas, processos de substituição de casas por prédios e moradias por comércios, bastante característicos de áreas centrais.