Robson Alves de Sá era ainda criança quando seus pais deixaram o município de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha, e foram buscar uma vida melhor em São Sebastião do Paraíso, no sul de Minas Gerais.
Chegando lá, enfrentaram uma rotina dura na colheita de café, compensada pelo contato com a natureza, pela paz e pela tranquilidade do lugar. “Paraíso é uma cidade acolhedora”, afirma Robson. “Quem vem até aqui não quer mais saber de ir embora.”
Acabada a primeira infância, o menino seguiu os passos dos pais, trabalhando na roça. Foi assim até os 21 anos, quando uma parente lhe contou que a recém inaugurada farmácia da Drogasil local havia aberto uma vaga e o aconselhou a se candidatar.
Robson participou do processo sem esperanças, mas, para sua surpresa, tudo correu bem. Quando deu por si, já estava participando de treinamentos e teve que fazer uma viagem a São Paulo. “A maior cidade que eu tinha visto era Franca. Imagine meu espanto com aquilo.”
Hoje gerente, Robson trabalhou parte dos seus dezesseis anos na empresa na unidade do Centro, no interior de uma construção histórica de Paraíso: o sobrado da Rua Pimenta de Pádua. O imóvel pertenceu ao coronel João Vilela de Figueiredo Rosa e sua esposa, dona Cândida Albertina de Figueiredo, até 1993.
Depois disso, passou a ser alugado para fins comerciais. Construído com muros baixos e recuos de frente, destaca-se pelas varandas, pelas janelas com venezianas de verga reta e pelo telhado de quatro águas com grandes beirais com cachorros (suportes). A decoração sugere um diálogo entre as curvas da linguagem barroca e a arquitetura neocolonial portuguesa.
Além da beleza, o sobrado foi palco de histórias. Deste e do outro mundo. Robson conta que, na época da construção, um grupo de pedreiros resolveu pernoitar na obra, acomodando-se no piso superior. Alta madrugada, ouviu-se um barulho no térreo. Eles desceram as escadas e foram verificar a única porta instalada. Nenhum problema, ela continuava trancada. Tentavam entender o que tinha acontecido quando, de novo, explodiu um som de porta batendo às suas costas.
Ainda de pijama, os seis foram correndo se hospedar no hotel. Funcionários da farmácia relatam já ter ouvido sons de cadeiras se arrastando, e os paraisenses antigos juram que, se estiverem na casa à noite e a luz acabar, saem correndo na hora. Fato ou ficção, o que vale é o bom causo.
Um pouco menos fantasmagórico, mas igualmente belo, é o palacete construído pelo imigrante sírio-libanês Nasr Fayad em Catalão, interior de Goiás. O imóvel de estilo eclético da década de 1930 tem telhado aparente e beirais de dois pavimentos, varandas e porão alto.
Reza a lenda que Nasr encomendou mármores da Itália, cimento da Inglaterra, e ainda contratou pinturas murais do italiano Etore Clerice para a decoração de ambientes como as varandas superiores. A família manteve o imóvel até a década de 1970, quando passou a ser alugado.
Tanto em São Sebastião do Paraíso quanto em Catalão, a Drogasil colabora com a preservação. Bom para os moradores, bom para os visitantes. Nesses dois cartões-postais o tempo para e nos convida a uma viagem pela cultura e pela sensibilidade.