LUGARES DE CUIDADO E MEMÓRIA
Raia e Drogasil: arquiteturas de interesse histórico
HISTÓRIAS

O que poderia ter sido

“Vamos dar um passeio no Largo do Ouvidor?” “Sim, vamos.” Esse poderia ter sido um diálogo entre dois paulistanos no século XIX. Algum tempo depois, porém, o convite teria que ser feito em outros termos.

É que o nome do local mudou várias vezes: virou Largo da Artilharia, Praça da Alegria, Praça da Legião, Tanque do Arouche e Praça Alexandre Herculano. De todos, esse último foi o que menos agradou o povo. Já havia simpatia pelo nome Arouche.

A denominação, a propósito, homenageava José Arouche de Toledo Rendon (1756-1834), doutor em leis pela Universidade de Coimbra, introdutor da cultura do chá, militar, personagem do processo político da independência e primeiro diretor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

O contato do arquiteto João Rangel Crissiuma com esse pedacinho do centro de São Paulo se deu quando veio cursar a Escola da Cidade, na vizinha Rua General Jardim. Dividindo um apartamento na Avenida Duque de Caxias, ele passou pelo largo dezenas de vezes e, apurando o olhar ao longo do curso, passou a admirá-lo: “As pessoas nem sempre se dão conta, mas aquele local tem qualidades urbanas raras”, diz.
Criado em um sítio na região de Barão Geraldo, em Campinas, João aprendeu a valorizar a relação humana com o espaço, e, ao ter contato com o Arouche, logo se deu conta de que foi um lugar pensado para acolher.

“Ali você tem calçadas largas, ajardinamento, paisagismo, estátuas, iluminação pública com postes da década de 1920 e até guias esculpidas em granito. São coisas que em geral só vemos em cidades do exterior. ”Em 1934, o largo viu ser construído um dos primeiros edifícios da região: o Santa Elisa. Tratava-se de uma obra inovadora do engenheiro e arquiteto Arnaldo Maia Lello, que representou um momento significativo da opção pela moradia em edificações verticais. Nunca é demais lembrar que, naquela época, apenas 1% dos paulistanos viviam em apartamentos.

Do primeiro ao sétimo pavimento, o Santa Elisa tem unidades destinadas ao uso residencial. No térreo, porém, há um espaço comercial que abriga vinte lojas voltadas para a área externa, além de uma galeria que conecta o largo à Rua do Arouche. Uma marquise cobre o passeio em cada face da rua. O revestimento das fachadas era em argamassa aparente, composta de pó de pedra e mica.

Hoje, por razões práticas, recebeu uma pintura. A preocupação com a beleza se nota no piso das áreas internas, feito de granitos, mármores e granilites que formam desenhos geométricos coloridos, assim como na tipografia com o nome do edifício na porta principal. Prédios como o Santa Elisa são exemplos de uma utopia de metrópole.

Não realizada, infelizmente. “É claro que a área no entorno sofre com o abandono e os problemas sociais”, pondera João, “mas aquele lugar tem ao menos esse aspecto interessante: sua escala urbana, com espaços generosos, nos dá uma mostra do que se pode fazer e do que São Paulo poderia ter se tornado.”

CALÇADAS COSMOPOLITAS

Largo do Arouche, São Paulo

CALÇADAS COSMOPOLITAS

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HISTÓRIAS

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