Aloísio da Costa Short Sobrinho nasceu em um município baiano chamado Santaluz, mas ficou lá pouco tempo: só até os seis meses de idade. Logo em seguida sua família se mudou para Serrinha. Lá ele viveria momentos importantes de sua vida.
Serrinha hoje tem cerca de 85 mil habitantes. É uma cidade sossegada, mas nos anos de 1960 o era bem mais, com fartura de terrenos e umas poucas ruas pavimentadas com paralelepípedos. Prédio residencial só havia um. Era a exceção em meio ao casario espalhado por generosos espaços. Todos se conheciam.
A vida se passava principalmente no antigo núcleo urbano, que deixou de ser o eixo econômico da cidade após a construção da BR-116. Foi ali, correndo pela rua, brincando e fazendo amizades que Aloísio começou a frequentar a casa da então Rua Góes Calmon, distante cem metros de sua residência.
A construção tinha jardim de frente e dos lados, quatro dormitórios, salas, cozinha e anexo com mais três quartos, possivelmente para empregados. Casa térrea, mantém platibandas decoradas com motivos geométricos, que condizem com a linguagem do ecletismo das primeiras décadas do século XX. “Era um imóvel grande, de esquina. Tinha uma varanda e um quintal não muito grande, mas largo o suficiente”, recorda-se.
“A molecada se juntava lá e saía para encontrar diversão.” Por diversão entenda-se o Carnaval, quermesses, o São Pedro, o São João e, claro, as festas da vida social. Alguns anos depois, já estudando Educação Física em Salvador, Aloísio continuou sendo um frequentador ocasional de Serrinha. Nas visitas, volta e meia lançava os olhos para a casa à qual havia ido tantas vezes, e da qual guardava boas recordações. Numa dessas ocasiões, porém, sua vida mudou.
Convidado por amigos, ele decidiu ir a uma vaquejada, festa tradicional do Nordeste na qual dois vaqueiros montados a cavalo têm que derrubar um boi puxando-o pelo rabo. Vai aqui, vai ali, entre uma conversa e outra acabou por conhecer uma moça, Dulcimeire, com quem viria a se casar. A isso se seguiram a mudança para a capital baiana, o nascimento de uma filha e pelo menos trinta anos de trabalho.
Quando a aposentadoria lhe bateu às portas, Aloísio chamou a esposa para conversar e perguntou: “Que acha de a gente construir uma casa lá em Serrinha?”. Também natural da cidade, ela não pensou duas vezes, e os dois deram início à obra, passando, logo depois, a residir lá. “Salvador é uma cidade muito agitada. A partir de um momento a gente quer mesmo é um pouco de tranquilidade, e isso Serrinha te proporciona.”
A nova moradia de Aloísio e de Dulcimeire fica a cerca de quinhentos metros da velha casa dos tempos de juventude, hoje sede da Raia. “Eu não a reconheço exatamente como antes, mas entendo que às vezes a engenharia não permite manter as coisas do jeito que eram. Sou um cliente da farmácia e gosto de ir lá. De todo modo aquele lugar está ligado à minha história emocional.”