LUGARES DE CUIDADO E MEMÓRIA
Raia e Drogasil: arquiteturas de interesse histórico
HISTÓRIAS

O inquilino

Assad Dayoub Nader nasceu junto com o século XX, em 1900. Sua cidade de origem é Homs, na Síria, e lá ele viveu até 1929, o ano da quebra da Bolsa de Nova York e da crise que abalou as estruturas econômicas do mundo. Como muita gente à época, Assad resolveu tentar a sorte em outro país.

Seu primeiro destino foi o Rio de Janeiro, onde um irmão o recebeu, mas após um tempo decidiu mudar para São Paulo, onde também tinha parentes. Trabalhou no comércio de calçados e, naquele vaivém típico da vida de imigrante, voltou para o Rio de Janeiro a convite do irmão. Ali Assad foi sócio proprietário de um restaurante na Floresta da Tijuca, na Cascatinha, local turístico que recebeu, entre outras personalidades, o presidente da República na época, Getúlio Vargas.

Outro fato interessante foi que, em meio aos encontros da colônia, conheceu Hanne Ackel, libanesa de Trípoli, e se casou com ela. Assad e Hanne tiveram quatro filhos: Suad, Nádia, Adib e Leila.

Nova mudança aconteceu em seguida, e o casal veio morar em São Caetano do Sul, no ABC paulista, onde por treze anos o senhor Assad esteve à frente do balcão da Casa Nader, uma loja de tecidos e armarinhos na Avenida Conde Francisco Matarazzo.

Mais doze anos de trabalho duro se sucederam ali, até que a família regressou a São Paulo em 1948, envolvendo-se na construção de um prédio com quatro lojas e três apartamentos em um terreno da Avenida Jabaquara esquina com Rua Oriçanga. Assim que a obra foi concluída, em 1949, o espaço comercial teve seu primeiro e, até hoje, único inquilino: a Drogasil. São nada menos que 72 anos de convivência.

Em 1954, a família passou a viver no apartamento de frente para a Avenida Jabaquara, e dona Leila Nader guarda recordações especiais desse tempo. Ela lembra que o imóvel de três quartos era uma espécie de ponto de encontro oficial da família, e que aos domingos tios, tias, primos e primas se reuniam ali para comer quitutes árabes e falar sobre a vida. “Natal, Ano Novo, Páscoa, tudo era lá. A casa vivia cheia.”
Sempre em contato com a farmácia, Leila recupera uma história curiosa: “Uma vez em 1968, meu pai notou a presença de uma jovem ali. Como os dois estavam fazendo compras, conversaram um pouco. Dias depois ele a apresentou ao meu irmão, Adib. Esse encontro foi o primeiro de outros tantos e resultou em casamento”.

A edificação tem à sua frente uma ampla calçada e um pequeno largo. Chama a atenção a curvatura côncava na fachada principal, que contribui para o ambiente de pátio na frente da loja e ao mesmo tempo acolhe pedestres. A platibanda que esconde o telhado, os frisos e as molduras retos marcando as lajes e contornando as aberturas, as esquadrias metálicas e as venezianas de madeira, as marquises e o embasamento de pedra bruta do térreo compõem características das construções urbanas em processo de modernização na metade do século XX.

Hoje dona Leila reside em Santos, mas tem muito viva na memória a casa do bairro que, por uma feliz associação, tem o nome de Saúde. “Já recebemos muitas ofertas de compra, mas temos resistido. As lembranças que temos dali são muito fortes.”

ESQUINAS COMERCIAIS

Avenida Jabaquara, Saúde

ESQUINAS COMERCIAIS

ESQUINAS COMERCIAIS

HISTÓRIAS

Pessoas e histórias nos lugares de cuidado da Raia e Drogasil

Nas farmácias, todos os dias, pessoas são cuidadas e vínculos são criados. Conheça os protagonistas e as histórias vividas nas nossas lojas.

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