LUGARES DE CUIDADO E MEMÓRIA
Raia e Drogasil: arquiteturas de interesse histórico
HISTÓRIAS

Lição de vida

Filho de pais potiguares (de São Paulo do Potengi) Wesley Melo da Silva nasceu em Guarulhos e teve uma infância com liberdade e muita brincadeira de rua no bairro da Ponte Rasa, na zona leste paulistana. Já adolescente, porém, a família se mudou para Guaianazes, e isso lhe trouxe problemas.

Além de perder o contato com os amigos, passou a ter que ir à escola de ônibus para assistir a aulas que lhe pareciam aborrecidas. Um dia, sem mais nem menos, resolveu que ia ajudar no comércio do pai e a mãe nos afazeres de casa. Salas de aula, nunca mais.

A rebeldia durou meses até que o jovem caiu em si e decidiu retornar. “Voltei com outra perspectiva. Entendi que seria importante me dedicar.” Por volta de 2003, ele recebeu o convite para um novo trabalho na Avenida Paulista.

A região, que até a década de 1930 era caracterizada por mansões de estilo eclético, com o tempo ocupou o lugar do Centro como núcleo de negócios da cidade. Ao ser alvo de melhorias como asfalto e uma linha de bondes, mais pessoas se deslocaram para lá e a verticalização foi inevitável.

Wesley foi designado para o período de experiência em uma farmácia da Raia que fica num dos prédios mais emblemáticos desse ciclo: o Conjunto Nacional. O sexagenário edifício, tombado em 2005, foi pioneiro na proposta de unir comércio, escritórios e moradia. Seus largos espaços, principalmente no andar térreo, se conectam com o exterior, criando um diálogo democrático e vibrante com a rua.

Wesley logo foi contratado e quando deu por si transitava por aquele ambiente de todo tipo de comércio, livrarias, cinemas, exposições e um teatro (o Eva Herz). Aquele convívio rotineiro abriu sua cabeça. Com dezoito anos de empresa, o jovem se tornou o farmacêutico do local. Viu de tudo e colecionou histórias, mas um caso, em especial, o marcou.

Dona Maria Benedita era uma cliente com vários problemas. Aos 85 anos era viúva, vivia sozinha e sofria de dores crônicas, hipertensão, diabetes e colesterol. “Ela não falava com a família e, ao que parece, também não se dava com os vizinhos.” Um dia dona Maria chegou à farmácia abalada. Disse que uma médica havia sido ríspida por ela ter se confundido na hora de tomar um de seus nove comprimidos. Wesley perguntou o motivo de sua confusão, e ela, envergonhada, falou: “Eu não sei ler”. Foi um momento revelador. Ele, que pensara em deixar a escola, se via diante de uma senhora fragilizada pela falta de conhecimento.

No mesmo instante, a equipe preparou um esquema de separação dos remédios por cores para ajudá-la a se lembrar das sequências, e dona Maria Benedita voltou para casa com outra fisionomia. “Fazemos o acompanhamento dessa caixinha há três anos. Ela é agradecida por isso e nos considera sua família.”

Hoje Wesley faz doutorado em medicina translacional e no tempo que sobra dá aulas de farmacologia para UTI pediátrica em uma faculdade de ensino a distância. E os planos não param aí. Ele quer continuar aprendendo coisas novas até onde for possível. Nada mal para quem um dia pensou em desistir dos estudos.

A CIDADE MODERNISTA

Avenida Paulista, São Paulo

A CIDADE MODERNISTA

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HISTÓRIAS

Pessoas e histórias nos lugares de cuidado da Raia e Drogasil

Nas farmácias, todos os dias, pessoas são cuidadas e vínculos são criados. Conheça os protagonistas e as histórias vividas nas nossas lojas.

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