Foi numa visita às terras do padre Antônio Tomás de Aquino Correia, em março de 1822, que Dom Pedro I se encantou com a paisagem e o clima da Serra dos Órgãos. Ali, pela primeira vez, ele pensou em construir uma residência para fugir do implacável calor carioca.
O sonho se tornou realidade na gestão de seu filho, Dom Pedro II, e, como a corte costumava passar metade do ano lá, políticos e membros das classes abastadas também começaram a construir seus palacetes na região.
Petrópolis foi então ganhando belas construções, e uma delas, de 1900, é hoje ocupada pela Raia. A edificação é posterior ao Segundo Reinado, mas tem características que aludem à época, como o frontão decorado com volutas e folhagens, além dos balaústres da parte superior, dos frisos e do gradil da sacada.
Veio o 15 de Novembro e, na transição para a nova forma de governo, o aparato do poder escolheu como sede o bairro do Catete, no Rio de Janeiro. Uma nova página de nossa vida política começava a ser escrita, mas as construções continuavam sendo erguidas com apuro e pretensões estéticas.
“Quando ando por aqui a sensação que tenho é a de estar passeando dentro de um livro de história.” A frase é do jovem Breno Cardoso Carvalho, farmacêutico da Raia. Ele está certo. Se há uma característica que assinala o bairro é a longevidade.
Menções a um Caminho do Catete recuam à época das lutas entre franceses e portugueses pela posse da região no século XVI. Antes dos “descobridores”, porém, Breno Cardoso Carvalho já havia uma trilha percorrida pelos tupinambás. Por causa da boa localização, a região abrigou personagens célebres da vida carioca. O escritor Joaquim Maria Machado de Assis, por exemplo, alugou um imóvel ali entre 1876 e 1882. Seu endereço: Rua do Catete, 206.
Breno cresceu na Baixada Fluminense (em Nova Iguaçu e São João do Meriti). Antes de trabalhar no Catete, foi um bom aluno e à altura do último ano do ensino médio fez um curso de enfermagem na Faculdade de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (Faetec). Concluído o curso, ingressou na Faculdade de Farmácia. “Mas nem sei por que escolhi essa área”, admite. “Na época, eu estava em dúvida entre outras opções.”
A hesitação se explica. Fã de matemática, Breno também tirava boas notas em biologia e português. Só não ia bem em história. “Mas tive uma professora que falava dos problemas das figuras do passado como se fossem de amigos seus e isso me fez gostar da matéria”, diz.
Já com esse novo olhar, teve a sorte de ser designado para a Raia do Catete, onde passou a apreciar o museu a céu aberto do centro carioca. “Trabalhar numa construção preservada e estar perto do Palácio do Catete, por onde passaram tantos presidentes, é uma experiência muito rica.” A história agora é rotina para Breno.