LUGARES DE CUIDADO E MEMÓRIA
Raia e Drogasil: arquiteturas de interesse histórico
HISTÓRIAS

Era de ouro

São Paulo foi, por anos, um local atrasado. Na verdade, só após a instalação da Faculdade de Direito, em 1827, é que se viram ali traços de urbanidade. Desde tempos coloniais, porém, o triângulo formado pelas Ruas XV de novembro, São Bento e Direita representa o núcleo da cidade. Milhões de pessoas transitaram pela região ao longo do tempo, mas poucas viram tantas transformações quanto Pedro Galletti.

Nascido em 1941, ele chegou a São Paulo em setembro de 1963, deixando a serenidade e o calor de Olímpia, no noroeste paulista. Após trabalhar em diversas ocupações, estabeleceu-se como administrador de condomínio. A essa altura, a primeira onda de verticalização da cidade já era um fato. Velhas habitações do ciclo cafeeiro haviam dado lugar aos “arranha-céus”, alguns com uso misto de moradia e trabalho, e um desses prédios era o Edifício H. Lara, seu local de trabalho.

Do alto dos seus 75 metros, o H. Lara se impõe na Praça Antônio Prado e traduz esse momento de remodelação. Como boa parte das construções da década de 1950, o prédio tem um embasamento com sobreloja (onde há uma farmácia da Drogasil). Nessa parte, o tratamento arquitetônico é diferenciado do restante e o acabamento inclui o uso de mármores e granitos polidos.

Construções em estilo neoclássico ou Art Nouveau se espalharam pela área, com aumento do número de escritórios. Já em meio ao florescimento do chamado “centro novo”, o Edifício Gustavo Eduardo Jafet é outro exemplo. Ele foi erguido do outro lado do Vale do Anhangabaú, na Rua Sete de Abril, e, no final dos anos 1940, acompanhou a efervescência social da região. Vizinho do prédio dos Diários Associados, testemunhou um intenso movimento de jornalistas, poetas e escritores.

A fachada tem como marcas a horizontalidade, a ausência de ornamentação e o infalível espaço comercial no térreo. Bancados pelo mercado imobiliário, arquitetos como Oscar Niemeyer, Franz Heep e David Liebeskind faziam de São Paulo um laboratório de ideias com viés humanizador. Suas intervenções não pensavam em separar pessoas. A vizinha Galeria do Rock, hoje com status de atração turística, é uma evidência dessa abordagem que buscava a convivência da população com os espaços.

“O centro era elegante”, recorda Pedro Galletti. “Eu passeava com meus filhos na Praça da República e no Parque Dom Pedro, e até os anos 1980 tinha o hábito de ir à Estação da Luz para ver o movimento das chegadas de trem. Hoje não faria isso.”

O Edifício Osvaldo Cruz, construído em 1955 na Rua Barão de Itapetininga, também foi projetado como ambiente multiuso, tendo espaço comercial no térreo. Em relação a ele há, aliás, uma curiosidade: a obra foi realizada pela Construtora Morse e Bierrenbach, sendo que a família Morse foi uma das fundadoras da Drogasil.

Morador do Centro há quase sessenta anos, o senhor Galletti lamenta a perda da qualidade de vida na região. Em contrapartida, se diz adaptado à rotina do lugar. “Quando tem feriado, fim de semana, a gente sente falta do movimento.”

CALÇADAS COSMOPOLITAS

Praça Antônio Prado, São Paulo

CALÇADAS COSMOPOLITAS

Rua Barão de Itapetininga, São Paulo

CALÇADAS COSMOPOLITAS

Rua Sete de Abril, São Paulo

HISTÓRIAS

Pessoas e histórias nos lugares de cuidado da Raia e Drogasil

Nas farmácias, todos os dias, pessoas são cuidadas e vínculos são criados. Conheça os protagonistas e as histórias vividas nas nossas lojas.

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