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Raia e Drogasil: arquiteturas de interesse histórico
HISTÓRIAS

A testemunha silenciosa

Belo Horizonte tinha 38 anos quando o senhor Custódio Dias de Oliveira nasceu. Para se ter uma ideia de como as coisas eram diferentes, a distância da casa em que morava na época até o centro era de cerca de um quilômetro. A sensação, porém, era a de viver no mato. Caminhos de terra, poucos vizinhos, silêncio.

A vocação de BH, entretanto, era crescer, e durante a gestão do prefeito Juscelino Kubitscheck (1940-1945) a cidade passou por um processo de modernização. Na época, a maçonaria formava o Grande Oriente de Minas Gerais como entidade autônoma e a prefeitura doou um terreno na área central para acomodação da loja. Ali foi construída inicialmente uma casa.

Enquanto isso se dava, Custódio crescia acompanhando o pai militar por várias cidades mineiras como Ubá, Dores do Turvo e Senador Firmino. Mais tarde, fixando-se no bairro Calafate, iniciou a vida profissional como fotógrafo, época em que foi convidado a ingressar na maçonaria.

Custódio passou a vida entre o trabalho e reuniões da instituição, sempre no Edifício Palácio Tiradentes, na esquina da Rua Rio de Janeiro com a Rua dos Goitacazes. “Com o tempo deixei o trabalho com fotografia e abri ali um comércio de artigos maçônicos. Hoje tenho 87 anos e estou aposentado, mas já vi que não vou conseguir ficar parado muito tempo.”

Com onze andares, além do térreo e da sobreloja ocupados por módulos comerciais, o Tiradentes possui seis unidades de apartamentos em cada pavimento. Os dois andares mais altos são espaços destinados para reuniões. A planta do térreo ocupa o lote retangular, e, a partir dos pavimentos superiores, abre-se um vazio central no lote. O prédio sobe com planta em “U” voltada para o miolo da quadra, possibilitando melhor ventilação e iluminação. As pastilhas, as janelas de canto na esquina e o ritmo horizontal dos peitoris e das aberturas são marcas do estilo modernista em voga.

Viver a agitação do centro foi também uma experiência marcante para o conservador têxtil Carlos Eduardo Prates, natural de Montes Claros. Como muita gente do interior, Carlos passava períodos em um apartamento da família na cidade, acostumando-se com a agitação de comércio, passeios e atividades.

A esquina da Rio de Janeiro com a Goytacazes foi para Carlos uma referência cultural. Entre 1980 e início da década de 1990, ele assistiu a clássicos como Indiana Jones, Em algum lugar do passado e Ghost no Cine Palladium. Viveu, também, com intensidade a excitação do centro: “Lembro que havia uns fotógrafos que tiravam fotos das pessoas e ofereciam um cartãozinho para quem quisesse ver o filme revelado. Tenho até hoje uma foto minha ao lado de uma namorada”.

Carlos conta que na área também foram inauguradas a primeira unidade do Mc Donald’s, o Shopping Cidade e uma loja da rede C&A, novidades de impacto na entrada dos anos 1990. Entre idas e vindas, o prédio da Rio de Janeiro com a Goytacazes era uma testemunha silenciosa dessa grande movimentação: “Passei por ali outro dia e o porteiro me disse que muitos apartamentos agora são ocupados por repúblicas. Você vê que o tempo passa, mas o centro continua com a vocação de ser um ponto de encontro e um local de efervescência”.

A CIDADE MODERNISTA

Rua dos Goitacazes, Belo Horizonte

A CIDADE MODERNISTA

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HISTÓRIAS

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