LUGARES DE CUIDADO E MEMÓRIA
Raia e Drogasil: arquiteturas de interesse histórico
HISTÓRIAS

A primeira onda

Não há como não ficar surpreso ao olhar para uma fotografia da praia mais famosa do Rio de Janeiro em 1930. O Copacabana Palace já aparece ali, majestoso, mas há terrenos vazios ao seu redor. Sim, terrenos vazios. E não são poucos.

Ruas paralelas à Avenida Atlântica, como a Domingos Ferreira e a Nossa Senhora de Copacabana têm uma dúzia de prédios pequenos, talvez um pouco mais, todos apartados, e ainda se veem muitas casas. Uma transformação, porém, estava em curso.

Naquela época, os cariocas mais abastados buscavam um modo de vida moderno e começavam a deixar seus chalés, casarões e palacetes para morar em apartamentos. O bairro passava por sua primeira onda de verticalização. Começava a trilhar o caminho que o levaria a ser como é hoje.

Percebendo o aumento da demanda, um prédio em estilo Art Déco começou a ser erguido na Rua Ministro Viveiros de Castro, 46, a partir do primeiro quartel do século XX. O responsável pela obra foi Manuel Hilário Fabião, um bracarense que viera para o Brasil alguns anos antes e conseguira se destacar no comércio de carvão. Ele morava longe então, no Maracanã.

A rua, vizinha à Praça do Lido, era calma e quase bucólica (ainda é hoje, se comparada às vizinhas Nossa Senhora de Copacabana e Barata Ribeiro), e Manuel a escolheu por um bom motivo: o trajeto da linha de bonde passava por ali. As pessoas sempre buscam comodidades, e aquele seria um fator de atração.

Sua bisneta, a veterinária Daniele Moreira Leitão, conta que Manuel juntou dinheiro e comprou o terreno, dando início à obra: “Ele construiu um prédio de cinco andares, e o objetivo era colocar os apartamentos para locação”, explica. Como o bairro se valorizou, a geração seguinte à dos filhos de Manuel acabou por usar o imóvel como moradia: “Eu mesma morei trinta anos ali antes de me mudar”, conclui Daniele. “Passei uma boa parte da vida naquele entorno.”

Com o tempo vieram novas ondas de verticalização, mas felizmente nem tudo foi destruído. O Rio de Janeiro, aliás, é considerado a capital do Art Déco na América Latina, tendo preservado quase trezentos imóveis inspirados no estilo. A maioria é de quatro a seis andares, com o pavimento térreo geralmente destinado ao uso comercial. É o caso do prédio da Viveiros. Sua ornamentação é composta de formas geométricas, e ele tem volumes que se projetam e recuam nas fachadas para a rua.

Uma pessoa que conhece bem o dia a dia da farmácia é a atendente Flávia Vitória Pachu Silva. Jovem, ela cresceu no bairro Santo Cristo e fez os estudos na Tijuca, época em que também trabalhou como jovem aprendiz em um mercado. Aos dezenove anos, porém, teve um filho. Um novo desafio se apresentava.

Após um ano cuidando do bebê, ela foi à luta. Fez testes aqui e ali até que apareceu a chance na Raia. “Comecei a trabalhar no dia do meu aniversário”, lembra.

“Costumo dizer que foi um presente de Deus.” Flávia diz que gosta de acordar e vir para o trabalho, onde também aproveita a oportunidade para fazer cursos. Tem o desejo de, um dia, tornar-se uma enfermeira.

Sejam as memórias de Daniele ou os sonhos de Flávia, o fato é que o Edifício Fabião continua a abrigar histórias. Observador silencioso do tumulto de Copacabana, deverá completar cem anos em 2030.

CALÇADAS COSMOPOLITAS

Rua Ministro Viveiros de Castro, Rio de Janeiro

CALÇADAS COSMOPOLITAS

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HISTÓRIAS

Pessoas e histórias nos lugares de cuidado da Raia e Drogasil

Nas farmácias, todos os dias, pessoas são cuidadas e vínculos são criados. Conheça os protagonistas e as histórias vividas nas nossas lojas.

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