Cunha (SP) não é o que se pode chamar de uma metrópole. Muito pelo contrário. Calma, silêncio e paz predominam ali. E, se a cidade não é exatamente agitada, imagine como é a vida em seus distritos.
Um desses locais é Campos Novos, vilarejo que hoje tem cerca de 3 mil habitantes. Foi ali, há trinta anos, que nasceu Lilian Regina Almeida. Sua infância foi feliz, mas ela queria morar em uma cidade grande, e a maior que havia por perto era Guaratinguetá. No final de 2011 ela trabalhava em uma lan house quando, aproveitando a carona de uma vizinha que ia fazer consultas médicas, entregou seu currículo em lojas do centro. E nunca mais pensou no assunto.
O tempo passou e um dia Lilian foi chamada à Drogasil, mas, inocente, demorou a entender ao certo o que estava acontecendo. “Passei por testes, fiz o exame admissional e nem assim a ficha caía. Um dia me mandaram ir a São Paulo e, apesar de nunca ter viajado sozinha, lá fui eu com a cara e a coragem.” Esse treinamento aconteceu numa terça-feira, no sábado ela começou a trabalhar. Já morando em Guaratinguetá, passou a frequentar a construção que abriga a farmácia, em frente à Praça Conselheiro Rodrigues Alves e próxima à Matriz de Santo Antônio. “Por ali passam muitas pessoas, por causa do turismo religioso da região, e volta e meia você vê alguém tirando fotos. É uma das casas que mais chamam a atenção no centro.”
O prédio de três andares foi construído na década de 1910 pelo negociante sírio João Abdalla, para ser local de trabalho e residência da família. Ele possui alinhamento com a via, sem recuo frontal e nas laterais.
A fachada principal mantém seus ornamentos, portas e sacadas nos dois lances superiores, coroada por um frontão que esconde o telhado.
Trabalhando ali por dez anos, Lilian ganhou o apelido de “mocinha de Cunha” e colecionou histórias. Uma delas, especial. Estava baixando as portas da loja certa noite quando um senhor chamado Johnny Santos apareceu e pediu um medicamento da farmácia popular. Ela o atendeu sorrindo, recebeu o pagamento e lhe disse boa noite. Tudo parecia absolutamente normal, mas, quando chegou em casa, seu celular estava cheio de mensagens.
O que poderia ser? O temor era de uma má notícia ou de alguma repreensão. Mas não. Era o contrário. Johnny tinha postado um comentário positivo na página do Facebook da drogaria e no final escreveu: “Espero que essa mensagem chegue até ela”. As pessoas foram replicando o texto e a coisa assumiu grandes proporções. “Recebi uma chuva de elogios. Foi um dos maiores reconhecimentos que tive na vida.”
Lilian ficou famosa e, em vez de ser chamada de “mocinha de Cunha”, passou a ser a “mocinha do Facebook”. Foi reconhecida nas ruas e citada em um programa de rádio. Coisas assim nunca lhe passaram pela cabeça quando vivia no sossego de Campos Novos. “Meu sonho é voltar a morar lá um dia, mas experiências assim são muito marcantes. Você não cabe em si de felicidade.”